SAIU NA ADORO: A trajetória inspiradora de Carminha Missio na agricultura brasileira

@carminhamissio

 

Texto: Ananda Costa e Simone Regina

Carminha Maria Gatto Missio carrega consigo as raízes profundas da agricultura. Nascida nas terras de Espumoso, Rio Grande do Sul, em uma família de agricultores, ela não só avançou os passos de seus antecessores, mas também abriu caminhos e conquistou espaços antes inexplorados por mulheres.

Filha de Amélio e Eulália Gatto, cresceu entre 10 irmãos, aprendendo desde cedo os valores da terra e do trabalho árduo no campo. Seu esposo, Celito Missio, também agricultor, acompanhou uma jornada que os levou por diversos estados do Brasil. Expandiram seus horizontes para além das fronteiras gaúchas e foi nesse contexto que Carminha começou a escrever sua própria história na agricultura, investindo na Bahia ainda na década de 80.

Mas sua atuação não se limita apenas às plantações. Carminha demonstrou desde cedo um espírito de liderança e engajamento comunitário. “Durante minha estadia em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, participei ativamente em diversas frentes, desde a presidência da APAE de Ponta Porã até o comando do Grupo Escoteiro Darcy Malta. Também fiz parte da Academia Pontaporanense de Letras, onde ocupei a cadeira 25 do patrono Graciliano Ramos, e dediquei-me como voluntária no intercâmbio de estudantes pela AFS Intercultura”, relembra.

Esse comprometimento com a cultura e a educação também se estende à sua própria formação acadêmica. Em 2000, aos 45 anos de idade, decidiu concluir seus estudos, prestando vestibular para Direito, formando-se em 2005.

Determinação e Liderança no Campo

O equilíbrio entre sua atuação como advogada e produtora de grãos e sementes sempre foi um desafio que Carminha encarou com determinação. Segundo ela, a gestão requer serenidade, planejamento e uma equipe eficiente. Essa mesma decisão levou a ser a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), além de liderar a APAE de Luís Eduardo Magalhães e o Sindicato Rural local, deixando uma marca inefável em sua jornada.

Ao longo de sua carreira, Carminha Missio testemunhou mudanças significativas no cenário agro. O avanço da ciência, aliado à tecnologia e à comunicação, trouxe conhecimento e transformou realidades, tanto no campo quanto na cidade. Para ela, o papel da mulher na agricultura sempre foi crucial, sendo o ponto de equilíbrio e a capacidade de tecer grandes ideias. “Que sejamos reconhecidas pelo nosso conhecimento, capacidade e competência. Não devemos ocupar cargos apenas para preencher lacunas, mas sim porque sabemos desempenhá-los com excelência e maestria“, afirma Carminha.

 

Para Carminha, o legado da agricultura transcende os campos e rebanhos, trata-se de construir uma sociedade mais justa e sustentável, onde cada indivíduo possa deixar sua marca para as futuras gerações. Ela conta que gostaria de ver mais mulheres participando de instituições representativas e ocupando espaços na política. O futuro da agricultura na Bahia, segundo ela, exigirá união e representatividade, especialmente diante dos avanços tecnológicos e das questões ambientais.

Para as mulheres que desejam seguir uma carreira na agricultura ou em cargos de liderança, Carminha oferece conselhos. Ela incentiva a busca pelo conhecimento, autoconhecimento e a compreensão de que as mulheres são a célula mater da sociedade, capazes de deixar um legado que atravessa gerações. “Essa é hora de nós, mulheres, buscarmos conhecimento, nos fortalecermos internamente e nos tornarmos a voz e os ouvidos atentos da cadeia produtiva da agricultura e pecuária. Somos a essência vital de toda a sociedade, representamos a vida em sua plenitude”, conclui.

Fotos: Guilherme Augusto

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