Cintura baixa e culto à magreza: tendência “y2k” acende alerta para transtornos alimentares

A calça de cintura baixa é moda de novo, para desespero de muitos. Sim, os anos 2000 estão com tudo. E, com eles, voltaram também alguns fantasmas dessa época. Por exemplo, o culto à magreza escancarado na moda e a perigosa pressão em torno disso.

Esse é um dos principais assuntos das redes. Vídeos com a hashtag “#y2k” (“year 2000” ou “ano 2000”, em português) tem mais de 7 bilhões de visualizações no TikTok. Boa parte deles relembra o estilo e a estética de 20 anos atrás, mostrando como adaptar tudo isso à moda de hoje.

Para quem tem intimidade com a indústria fashion, não é nenhuma surpresa. “Na moda, existe o que chamamos de ciclo de 20 anos. A cada 20 anos, começamos a revisitar as estéticas que foram fortes 20 anos atrás”, diz Sofia Martellini, analista da empresa de previsão de tendências WGSN, em entrevista ao G1.

“Em 2010, estávamos olhando para os anos 90. Nos anos 90, muito do que era tendência foi tirado dos anos 70. Esse ciclo se repete.”

“A cada 20 anos, começamos a revisitar as estéticas que foram fortes 20 anos atrás”, explica analista

Isso acontece, ela explica ao G1, porque as gerações se renovam e o fator nostalgia cria uma visão romantizada das lembranças de infância da geração atual.

E a geração Z, a primeira que já surgiu digital, é especialmente nostálgica. Nascida depois da virada do milênio, essa turma cresceu junto com a dependência da internet e a importância das redes sociais. Suas lembranças de infância estão todas documentadas em formato jpg, mp3, mp4, txt etc.

Por isso, em 2022, o estilo dos anos 2000 ficou mais popular justamente entre os novinhos: adolescentes e jovens adultos, que mal se lembram ou nem viveram essa época. “Não é uma nostalgia de um tempo em que eles viveram. É uma ideia desse tempo”, conclui Martellini.

A nova Kardashian

Depois, o padrão mudou. Nos anos 2010, veio a era dos corpos volumosos – ainda magros, mas mais curvilíneos. Uma época representada pela figura das irmãs Kardashian.

Mas, agora, a sensação nas redes é de que tudo está diminuindo de novo. Celebridades como Bruna Marquezine, Rafa Kalimann e Anitta perderam peso nos últimos anos. Até Kim Kardashian – símbolo máximo do padrão curvilíneo dos anos 2010 – adotou um visual mais magro.

Kim Kardashian adotou um visual mais magro (Foto: Reprodução/ Instagram)Sinais de alerta

Se, nos anos 2000, alguns pais se preocuparam pela primeira vez com a possibilidade dos filhos desenvolverem transtornos alimentares, hoje o problema afeta jovens cada vez mais novos, segundo a nutricionista Imamura.

Um dos fatores por trás disso, diz ela, é o contato precoce com padrões de beleza na internet. “O TikTok, por exemplo, tem muito conteúdo prejudicial, como vídeos que prometem ensinar a perder peso de forma rápida. Além disso, há corpos expostos o tempo todo. Isso gera muita comparação”.

Em suas diretrizes, a rede diz excluir conteúdos que possam induzir transtornos alimentares. Mas nem sempre a influência acontece de forma tão direta.

“Os anos passam e essas coisas acabam sendo repaginadas. Hoje, é quase inviável que o ‘heroin chic’ dos anos 90 seja cultuado abertamente, mas existe a onda do bem-estar, do ‘wellness’, que também reforça um padrão limitado.”

Se a obsessão pela vida mais saudável ou a relação com a comida gera sofrimento ou prejuízo na vida social, isso pode ser sinal de um transtorno alimentar. Mas, nos adolescentes, os indícios costumam ser mais difíceis de perceber, explica a nutricionista.

“Eles não necessariamente irão começar uma dieta restritiva, mas podem diminuir quantidades, cortar radicalmente frituras, doces e outros alimentos que gostam. Às vezes, isso é entendido pelos pais como uma mudança saudável. Podem aplaudir e até incentivar esse comportamento, mas é preciso ter atenção.”

Imamura cita alguns comportamentos típicos do transtorno alimentar em pessoas mais jovens, que podem ser sinais de alerta para os pais:

  • Falar com frequência sobre insatisfação em relação ao corpo;
  • Restringir a alimentação gradualmente ou decidir parar de comer algum grupo específico de alimentos (carboidratos, por exemplo);
  • Ficar mais tempo sem comer;
  • Ter interesse excessivo no rótulo dos alimentos, buscando informações sobre calorias e nutrientes;
  • Mudar repentinamente de rotina (por exemplo, passar do sedentarismo direto à prática de exercício constante e intensa)

Com informações do G1.
Foto: Divulgação

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