Especial Mulher
@renata_di_carmo
A história inspiradora da multiartista carioca que celebra carreira extensa no mundo artístico e audiovisual nacional
Texto: Carolina Felski
Nascida em Campo Grande, zona oeste do Rio de Janeiro, a ‘multiartista’ Renata Di Carmo descobriu a sua paixão pela dramaturgia e pelo ato de contar histórias aos 11 anos, quando começou nos palcos. Foi aos 13, quando já escrevia para o teatro, que ela estreou como atriz em sua primeira peça profissional.
Filha de Orlando e Sueli, e irmã de Márcio e Fábio, Renata não se identificava com o mundo à sua volta quando pequena, e foi no teatro que isso mudou – ela encontrou o seu universo e o seu refúgio. “O que impulsionou as minhas escolhas foi o amor pelo ato de contar histórias, despertado pela leitura de diversos gibis e livros durante a minha infância”, compartilha Renata Di Carmo.
A atriz, diretora, roteirista e escritora gosta de afirmar que seu primeiro contato com o universo artístico foram as escolas de samba. Sua bisavó, Alice, chefiava a ala das baianas da escola Império Serrano, e sua avó, Ondina, era baiana. Com uma curiosidade incansável pelo o que existia fora de seu campo de visão, Renata conquistou um de seus maiores feitos: foi a primeira mulher negra do país a ser contratada como autora-roteirista pela maior emissora de TV do país.
“Em 1999, aos 18 anos, além de ter iniciado a minha graduação em Artes Cênicas e Cinema na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, fui contratada como autora-roteirista pela TV Globo para o programa de humor Zorra Total, e também para o programa Escolinha do Professor Raimundo l”, relembra Renata.
Anteriormente, Renata já havia escrito alguns textos como freelancer para TV e produtoras, além de prestar alguns serviços na área para o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT). “Na época, meu trabalho era solitário. O ambiente era majoritariamente branco, masculino e classista, e eu já ansiava por um tempo de mudanças que trouxesse outros autores negros, homens e mulheres, para o audiovisual”, conta.
Na TV Globo, Renata integrou o elenco fixo da emissora em novelas como Desejos de Mulher, Cabocla e também no humorístico Zorra Total em temporadas distintas; na série Canal Saúde, da TV Brasil; e nos primeiros capítulos de O Sétimo Guardião. “Recentemente, fui convidada a integrar a primeira temporada do programa A(U)tores, disponível no canal Futura e na Globoplay, que aborda o trabalho de atores que também escrevem”, relata.
Fazendo jus ao seu título de ‘multiartista’, a carioca também se consagra na literatura, sendo escritora premiada da obra infantojuvenil Anele – A menina dos olhos de mundo, do livro As faces de Maria Firmina dos Reis: diálogos contemporâneos, e integrando ainda a obra A mente ninguém pode escravizar. Ela também tem poesias publicadas em coletâneas e zines.
Como autora, tem atuado para os mais diversos serviços de streaming, como HBO, Netflix, Disney, Globoplay e Amazon. Entre os seus trabalhos mais recentes, destaca-se a série Humor Negro, do Multishow (roteirista-chefe, redação-final e supervisão), Candelária, da Netflix (roteiro e redação-final), Toda Família Tem, da Amazon (roteirista-chefe), Últimas Férias, do Star+ (consultora), Cidade de Deus, da HBO (roteirista) e da adaptação cinematográfica de Torto Arado, obra do baiano Itamar Vieira Junior.
Após ter se tornado uma notável autora-roteirista de uma das maiores emissoras do país há 25 anos, Renata Di Carmo pavimentou uma brilhante carreira como escritora, diretora de peças e curtas, atriz de diversos espetáculos, jornalista, ensaísta e diretora à frente da produtora Churinga Produções.
Além de seu trabalho notável na dramaturgia e no audiovisual, a artista também colabora constantemente com projetos sociais, como os da Prefeitura do Rio de Janeiro, da Anistia Internacional e do Cinema Nosso, além de iniciativas próprias, como um projeto de democratização da leitura e educação antirracista através de clubes de leitura de seus livros infantojuvenis. Vale destacar que ela também foi uma das autoras que integrou as primeiras reuniões para a fundação da primeira associação de roteiristas do Brasil, que lutava pelos direitos da classe.
Podemos dizer que Renata é uma manifestação de coisas que ela deseja resgatar em si mesma e na história coletiva. Talvez seja por isso que, enquanto multiartista, ela inspira não só as adultas, mas também meninas que olham para ela e entendem a importância e a grandiosidade de ser uma mulher. “Mantenho viva dentro de mim a menina que um dia sonhou com um mundo diferente, tento inspirar e abrir o caminho para diversas outras mulheres que desejam estar presentes em locais que, em outro momento, pertenciam apenas aos homens”, conclui Renata.
Fotos: Luciana Zacarias