Produção agrícola transforma cenário do Oeste da Bahia

Hoje reconhecidas pela produção de qualidade, as terras planas e férteis, aliadas à riqueza hídrica do cerrado, são a base para a transformação sofrida pelo Extremo Oeste da Bahia, em pouco mais de quatro décadas de abertura da fronteira agrícola.

Aos recursos naturais se soma o trabalho meticuloso dos empreendedores do agronegócio, que se beneficiam de pesquisas e técnicas – como agricultura de precisão, plantio direto e outros modelos sustentáveis – para alcançar bons resultados com as atividades rurais.

Com seguidas quebras de recorde, o incremento produtivo pode ser confirmado nos números consolidados pela Coordenação de Estatística da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (Coest/SEI). Com base em dados da Produção Agrícola Municipal (PAM/IBGE), as pesquisas apontam que entre 2003 e 2022 a área de soja passou de 850 mil hectares (ha) para 1,6 milhão/ha.

No período, a produção da leguminosa saltou de 1,5 milhão de toneladas (ton) para 6 milhões de toneladas, e o Valor Bruto da Produção (VBP) passou de R$ 948.432 para R$ 18 milhões. Segunda cultura em área na região, o algodão passou de 63.987 ha em 2003 para 293.219 ha em 2022, produzindo, respectivamente, 240.114 toneladas e 1.335.733 toneladas. O VBP passou de R$ 340.203 em 2003 para R$ 7,2 milhões em 2022.

Municípios mais ricos

Neste contexto, o município de São Desidério está entre os cinco mais ricos do Brasil no setor do agronegócio, conforme análise sobre a pesquisa anual do IBGE da Produção Agrícola Municipal (PAM), divulgada no ano passado, em que foi avaliada a área colhida, produção, rendimento e valor da produção.

A Bahia tem sete municípios na lista dos 100 mais ricos do País e desponta também com Barreiras, Correntina, Formosa do Rio Preto, Jaborandi, Luís Eduardo Magalhães e Riachão das Neves. Os dados analisados são de 2022, pois a avaliação sobre 2023 ainda deve ser lançada nos próximos meses.

“O Oeste baiano exerce uma importância muito grande para o Estado, seja no aspecto econômico, seja do ponto de vista social, por ser ele o maior celeiro produtivo de grãos, fibra e frutas”, afirmou a vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (Faeb), Carminha Missio.

Produtora rural radicada em Luís Eduardo, ela salientou que a região é também “celeiro de oportunidades”, pois a atividade agrícola é a principal responsável pela criação de empregos diretos e indiretos e também por movimentar o comércio. “Isso se deve à vocação agrícola da região, que dispõe dos principais insumos para atividade: terras férteis e disponibilidade hídrica”, ponderou.

Mas Carminha ressalta que nem sempre foi assim. “Para que essas terras se tornassem produtivas, foi necessário um trabalho intenso dos agricultores que aqui chegaram”, afirmou, destacando que a infraestrutura era muito precária, mas que os produtores acreditaram no potencial da região e se organizaram em entidades fortes.

De acordo com a líder da classe, os investimentos em pesquisas e a cooperação entre os agropecuaristas “foi fundamental para chegarmos aos números que atingimos em produção e produtividade”.

Entre os agrupamentos mais conhecidos estão a Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), a Associação dos Produtores de Algodão da Bahia (Abapa) e os Sindicatos dos Produtores Rurais de Barreiras e LEM.

Outro fator apontado como relevante para a região alcançar os resultados obtidos nas lavouras e agroindústrias são os cursos de qualificação e capacitação, dirigidos aos profissionais das diferentes etapas da produção, de acordo com a presidente do Sindicato dos Produtores Rurais (SPRLEM), Greice Kelli Fontana Klein.

“Os cursos técnicos do Senar desenvolvem a formação profissional rural e as atividades de promoção social voltadas para as produtoras e produtores rurais, assim como seus colaboradores, desenvolvendo ações que incentivam a permanência dos cidadãos no campo, para que conquistem melhor qualidade de vida e agreguem valores a sua produção”, afirmou. Ela ressaltou que o SPRLEM oferece, por ano, uma média de 260 cursos, capacitando aproximadamente quatro mil pessoas no município.

Novos investidores

A pujança regional continua a conquistar novos investidores e motivar empreendedores já radicados no Oeste a ampliar a atuação. O que atrai e inspira esses projetos, de acordo com a empresária Katerine Rios, é o tripé “terra, água e matéria-prima”. “Somos uma região próspera. Só em 2023 trouxemos mais de 100 comitivas para conhecer e vivenciar na prática o que acontece por aqui”, relata.

Testemunha desta movimentação, ela é Chief Operation Officer (COO) do Instituto Washington Pimentel (IWP), e destaca que esses visitantes e potenciais investidores ficam encantados com a organização familiar das fazendas, o uso de tecnologia de ponta e a produção sustentável com preservação ambiental e respeito social. Além de atrair investidores, o instituto oferece cursos aos empresários rurais para profissionalizar a gestão no campo.

Luís Eduardo Magalhães completa 23 anos com aumento populacional de quase 80%

Com os resultados nos campos, as mudanças regionais extrapolam os limites das fazendas, que estão cada vez mais automatizadas e com equipes qualificadas. Novos municípios surgiram desde o início da produção em larga escala no cerrado baiano, como Luís Eduardo Magalhães, que este mês completa 23 anos e registrou um aumento populacional entre 2010 e 2022 de 79,5%, passando de 47.804 para 107.909 habitantes, conforme o Censo do IBGE.

Situada na divisa com Tocantins, a cidade concentra as principais revendedoras de maquinários, implementos e insumos agrícolas, com comércio fortemente ligado ao agronegócio. É uma referência na fronteira agrícola conhecida como Matopiba, que engloba terras de cerrado nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Luís Eduardo Magalhães foi emancipada de Barreiras, que é a cidade pólo regional e registrou crescimento de 16,24% no período, somando 159.743 habitantes, consolidada como referência para assuntos de saúde, educação, comércio em geral e serviços.

Neste contexto, Barreiras e Luís Eduardo são as cidades da região Oeste que despontaram no Estado entre os municípios com maior geração de vagas de trabalho no ano passado.

Na quarta colocação, atrás de Salvador, Lauro de Freitas e Feira de Santana, LEM teve um saldo positivo de 2.414 postos. No sétimo lugar, Barreiras registrou saldo de 1.720 vagas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.

‘Dores do crescimento’: cadeia maior exige mais infraestrutura

As chamadas ‘dores do crescimento’ já começam a ser vivenciadas por empreendimentos agropecuários responsáveis por impulsionar a economia do Oeste baiano. A conta chega principalmente na demanda por mais infraestrutura básica – água, energia e internet, por exemplo. São gargalos que os produtores lutam para superar.

O agro baiano tem consciência de que seu ritmo de crescimento é tão intenso que não houve forma de ser acompanhado pelo poder público – não por desinteresse, mas pela própria natureza mais lenta da gestão. O planejamento, entretanto, já está sendo montado para propiciar não apenas a solução dos problemas, mas a continuidade do crescimento.

A demanda por estradas, aeroporto e mais energia, por exemplo, acompanha a história da ocupação das terras situadas no cerrado baiano para a produção agropecuária em larga escala. No início, muitas estradas foram feitas manualmente e, para realizar a irrigação, os produtores usavam apenas óleo diesel, encarecendo os custos.

Neste contexto, entidades como as associações e sindicatos que congregam os produtores estão em constante movimento na busca das soluções da infraestrutura logística e energética junto aos órgãos responsáveis, contando também com apoio de representantes políticos.

As distâncias entre as áreas produtivas e as rodovias já asfaltadas formam uma extensa malha viária, que, dependendo da localização das propriedades, aumentam o custo do produto final, principalmente nos períodos chuvosos, de acordo com o gerente de Infraestrutura da Associação dos Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Luiz Stahlke.

Com participação da associação, uma das iniciativas regionais neste cenário visa construir pontes, recuperar e pavimentar estradas com investimentos dos produtores, do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA) e do Programa para o Desenvolvimento da Agropecuária (Prodeagro). A execução dos serviços tem à frente a equipe da Patrulha Mecanizada da Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa).

Iniciado há uma década, o projeto atuou na recuperação e manutenção de cerca de 3 mil quilômetros, beneficiando 43 estradas das regiões produtoras. Aprovado em decreto em 2013, o programa conta com recursos originários da renúncia fiscal do Estado de uma parte dos impostos cobrados de produtores (pessoa física) sobre as lavouras da soja, milho e café.

“A região está demandando para a Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seifra) principalmente a BA-592, que liga as BR’s 459 e 030, já em processo de licitação, além da BA-461, em LEM, que atende a comunidade da Bela Vista”, afirmou Stahlke em nome da Aiba.

Conforme a Seinfra, os projetos já elaborados para a região somam 130 km, incluindo a BA-592 em diferentes trechos. “Os projetos têm como objetivo permitir que as produções sejam escoadas com facilidade, permitindo a melhoria da competitividade e superação de gargalos de infraestrutura”, explicou o titular da Seinfra, Sérgio Brito.

Rodovias federais

Também rodovias federais estão no radar dos empreendedores agropecuários e agroindustriais da região. Junto ao Ministério dos Transportes, eles cobram urgência na conclusão de trechos inacabados da BR-135 e a duplicação da BR-242, entre Barreiras e Luís Eduardo Magalhães.

Com interesse regional que vai muito além do setor produtivo, “a duplicação de 90 km da BR-242 está no escopo do programa Novo PAC, com projeto executivo em formatação. Pela relevância do empreendimento, a entrega do projeto concluído deve ocorrer até o fim do ano”, destacou a nota d o Ministério dos Transportes.

Já a BR-030, que interliga a capital federal ao litoral baiano, tem cerca de 200 km ainda não pavimentados entre Mambaí (GO) e Cocos (BA), e a Ferrovia da Integração Oeste Leste (Fiol) só tem o trecho 01 (Ilhéus a Caetité) com processo mais adiantado e obras em andamento pela concessionária Bamin.

Muito aguardada por setores como mineração agropecuária, a ferrovia deve baratear custos com fretes e melhorar a competitividade da produção. Entre Caetité e Barreiras (Fiol 02), há lotes em obras, e a previsão é finalizar até 2026.

A perspectiva do Ministério dos Transportes é concluir 70% da estrutura ferroviária do Porto de Ilhéus ao Oeste até o fim deste ano. Já a Fiol 03, trecho de Barreiras a Mara Rosa (GO), está em estudos do traçado alternativo, de onde se conectará com a Ferrovia da Integração Centro Oeste, formando o corredor FICO-FIOL.

O trecho da BR-135 entre São Desidério e Correntina está em tratativas. Já está concluido o projeto do trecho entre Correntina e Jaborandi, que integra o Novo PAC. Sobre o trecho da BR-030, a licitação está em fase de habilitação de propostas para o projeto e execução da obra, prevista para começar neste primeiro semestre.

Movimento Decola Barreiras reivindica requalificação e ampliação do aeroporto

A requalificação e a ampliação do Aeroporto de Barreiras é outra demanda antiga, que pode beneficiar, além do setor rural, outros grupos produtivos, notadamente das áreas da saúde, educação e entretenimento. Juntos, os segmentos criaram o movimento Decola Barreiras, que visa reforçar a pressão para realização das obras.

Segundo a Seinfra, os projetos de infraestrutura foram readequados – após avaliação inicial da Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC) –, reenviados no final de fevereiro e aguardam resposta do órgão.

Sobre o Terminal de Passageiros e equipamentos de auxilio à navegação aérea, a entrega de projeto foi reprogramada para o próximo mês de abril por conta das atualizações relativas à parte de infraestrutura. Conforme a Seinfra, o início do processo licitatório depende de aprovação dos projetos pelo órgão federal.

Energia elétrica

A expansão da oferta de energia elétrica no Oeste é outro fator apontado como necessário à nova fase de desenvolvimento regional, tanto para a ampliação de empreendimentos já existentes quanto para a atração de novos projetos. A demanda por suporte se dá especialmente nas áreas de irrigação e agroindústria.

Envolvida na busca para o reforço energético regional, a Aiba avalia que “para atender a demanda atual, precisamos por volta de 400 megas wats de energia somente para projetos já consolidados”, disse o gerente de Infraestrutura da associação, Luiz Stahlke, sem pontuar, entretanto, quanto seria necessário para atender os novos empreendimentos.

A Neoenergia Coelba informou que, até 2027, vai investir R$ 13 bilhões em diferentes regiões do Estado. Neste contexto, o plano é construir dez novas subestações e expandir outras 16 no Oeste da Bahia, para aumentar em 70% a capacidade energética da região e atender a demanda. Ainda este ano, segundo a empresa, serão construídas cinco novas subestações nos municípios de Barreiras, Jaborandi, Riachão das Neves e São Desidério.

Ao reconhecer a importância do agronegócio para a economia baiana, a Neoenergia Coelba afirma que concentra esforços para expandir a oferta. A empresa acrescenta que, nos últimos quatro anos, R$ 1,6 bilhão foi investido no Oeste, resultando na entrega das subestações Rio do Algodão, Rio Formoso I e III e Rio Grande III, nos municípios de Luís Eduardo Magalhães, Jaborandi e São Desidério.

Informações do A Tarde
Foto: Divulgação

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