Chef brasileira assumirá restaurante no Louvre

A história de Alessandra Montagne começa na comunidade do Vidigal, onde nasceu e foi abandonada pelos pais ainda bebezinha. De lá, foi levada para viver com os avós na pequena Poté, em Minas Gerais. Aos 22 anos embarcou para Paris de chinelo no pé e sem fazer ideia de que sua vida iria mudar completamente.

Alessandra está à frente de dois restaurantes na Cidade Luz, o Tempero e o Nosso, e tem ninguém menos que Alain Ducasse como seu padrinho na gastronomia, inclusive ele é o responsável em convidar a chef para assumir a operação de um dos restaurantes do Museu do Louvre pelos próximos 10 anos.

Mas para chegar até aqui, a história não foi fácil. Resiliente, focada e com talento de sobra, a chef afirma que parecem duas vidas diferentes – uma antes de ir para a França e a outra depois. E são.

Criada pelos avós Maria e Sebastião na roça, em Poté, cidade no interior de Minas, foi lá que aprendeu a cozinhar, desossar o porco, preparar o doce do zero e a, literalmente, colocar a mão na massa desde muito jovem. Quando estava com 11 anos, a mãe reapareceu em sua vida. Casada com um suíço, estava morando fora, mas procurou a filha para reatar laços.

Aos 16 anos Alessandra engravidou do seu primeiro filho, André, e se casou. Foi um relacionamento conturbado, marcado por violência e no qual sua mãe a ajudou – literalmente – a fugir do abusador e a levou para a casa de uma tia em Itaquera, em São Paulo.

No meio do caos que estava sua vida, em 1999, resolveu passar alguns poucos meses com a mãe em Paris. Mal sabia a chef que os poucos meses para aprender francês e mudar de ares se transformariam em uma vida completamente nova, cheias de desafios, claro, mas de muito sucesso.

Foi com o incentivo dos próprios amigos que ela acabou se matriculando na Médéric, escola de cozinha e hotelaria da capital francesa. Melhor aluna da sala, ela ganhou de presente um curso de confeitaria de um ano. Depois, formada, foi bater na porta de Adeline Grattard, chef francesa que acabava de receber sua primeira estrela Michelin com o restaurante franco-chinês Yam’Tcha.

Na época, Alessandra já tinha sua segunda filha, Thaís, e lutava na Justiça para trazer André para a França – uma luta que durou quatro anos, até que ela finalmente conseguisse estar com o filho novamente.

Depois de muito trabalho e de juntar uma reserva, a chef resolveu tentar o voo solo. Achou um pequeno restaurante no 13ème arrondissement de Paris, um bairro fora da rota turística tradicional, e abriu o Tempero. “Já no primeiro dia lotou, não tinha comida que bastasse. E ficou cheio do primeiro até o último dia”, vibra a chef.

Aos pouquinhos a casa foi conquistando a cidade com sua comida francesa com toques de brasilidade. Alain Ducasse foi um dos que ficaram curiosos com o sucesso da brasileira – e hoje ela o considera um verdadeiro padrinho na gastronomia. O restaurante ficou por lá de 2012 a 2020, quando ela finalmente decidiu vender para abrir um lugar maior. Um mês depois de locar o novo local a pandemia chegou e parou tudo. Se a obra estava parada, a cabeça não estava e borbulhava de novas ideias.

Tanto que o Nosso, segundo restaurante de Alessandra, foi inaugurado em junho de 2021, assim que o presidente francês decretou a reabertura dos estabelecimentos. Lá a chef pratica uma cozinha mais gastronômica, trabalha com os produtores mais próximos e faz a compostagem de absolutamente tudo que não é utilizado. O bem-estar também se tornou uma marca registrada: cursando o terceiro ano de naturopatia, Alessandra traz as plantas e ervas medicinais para a mesa, com elementos que coroam suas criações com pitadas de saudabilidade.

Agora ela se prepara para viver mais um desafio na vida – muito bem-vindo, diga-se de passagem: o de comandar um dos restaurantes do Museu do Louvre. Alessandra faz parte de um seleto coletivo de chefs da “Geração Ducasse” escolhidos a dedo para a empreitada, que vai incluir a reforma completa dos espaços até o final de 2024, para que os novos chefs assumam seus postos e revelem suas propostas gastronômicas. Os outros nomes que estarão à frente das operações no museu são Jessica Prealpato, chef-pâtissière no hotel San Régis; o chef Florent Ladeyn, do Auberge du Vermont, uma estrela Michelin; os padeiros criativos Pascal Rigo e Arnaud Chevalier; e o chef Vivien Durand, do Le Prince Noir, também uma estrela Michelin.

Por enquanto é o que se sabe: o comunicado oficial foi feito no final de 2023 pelo Musiam Paris, negócio liderado pelo lendário Alain Ducasse que se dedica a operar restaurantes sob concessão em parceria com o WSH Group. Eles acabam de fechar contrato para cuidar da operação de todos os restaurantes do famoso museu nos próximos 10 anos.

Essa gastronomia baseada na abordagem criativa, na transmissão de conhecimento, no partilhar e no encantamento com a cozinha será tocada por um coletivo extraordinário de chefs do qual eu fico muito feliz de fazer parte.
Chef Alessandra Montagne

Mais informações sobre o novo projeto serão divulgadas com exclusividade pelo próprio Louvre, portanto os chefs participantes ainda não podem revelar mais detalhes.

Informações da CNN
Fotos: Reprodução

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