SAIU NA ADORO: Viver nos faz vibrar

Coluna

@thiagokaique
Texto: Thiago Kaique

Por muitas vezes na vida, ou todas as vezes, seguimos um certo fluxo das coisas que, na maioria das vezes, nem nos tocamos disto. O quanto vivemos mais para os outros do que para nós mesmos. Seja na época da escola para estarmos entre os mais populares, ou na própria vida, seguimos determinados padrões estabelecidos sabe-se lá por quem.

Um grande exemplo são as mulheres do passado, aquelas que viviam um “felizes para sempre” com seus casamentos prolongados, casa cheia de filhos e um bom marido para lhe sustentar. As meninas de épocas passadas, não tão distantes assim, ouviam que deviam saber cozinhar e se comportar para ter um bom marido. O modelo de felicidade passava longe de se ter uma independência financeira ou muito menos uma boa profissão, ambas escolhas completamente “corretas” desde que feitas por livre escolha e felicidade, não por imposição do que se deva fazer, secundário ao que vão achar.

Entrando no âmbito da medicina, desde a faculdade somos fadados à competição, desde quem tira as melhores notas ou até por ter o melhor carro (isso na faculdade) e não se engane que acaba por aí, isso perdura entre os que estipulam quando você deve entrar ou não na residência médica, e por aí vai. Subespecialidade, fellow, mestrado, doutorado, PhD, cursos, atualizações, cargos, equipes, títulos, cansei só de falar. Muitos seguem por seguir, sem sentir, sem se permitir, sem entender que o processo natural de evolução é individual de cada um. E eis que a cobrança em torno de si próprio se torna cada vez maior, mais exaustiva.

Você talvez nem se lembre de quando teve que conversar com alguém olho no olho sem que seu celular vibrasse e você fugisse completamente de uma conversa importante pela aceleração que o mundo moderno lhe impôs, ou o quanto que você teve que correr porque outros queriam que você corresse, escalar um “monte gigante de auto-sabotagem” porque disseram que você deveria estar lá, e você adquiriu um ego inflado.

Ego este que talvez você teria percebido se parasse para se autoanalisar. Convenhamos que não é necessário entender Freud para se fazer uma autoanálise, assim como ele fez (não é necessário que dure seis anos como no caso dele), ou muito menos ter lido uma obra prima de Ryan Holiday para compreender que, mais que senso comum, é olharmos para fora e procurar culpados por nossos insucessos, dificuldades, e compreender que o maior inimigo, no entanto, está dentro de nós. Tão bem instalado que nem mesmo notamos “o ego e seu inimigo et al”, uma vida moderna regrada a mostrar mais ao mundo do que viver o seu próprio mundo e seus desejos e gostos.

Você pode ser um cosmopolita, se sentir bem e completo quando recluso em uma pequena cidade do interior de Minas Gerais, ou até mesmo exercer a magistratura com excelência e ter um estúdio de tatuagem por hobby. Não que eu tenha conhecido alguém assim na vida, mas seria bem interessante poder ter essa troca. E se algo te faz vibrar, por que não?

Você se lembra qual foi a última vez em que tomou um café antes que ele esfriasse se deliciando por cada gota que ali estava? Talvez não. Mas lhe garanto que talvez você se lembre do último post no Instagram que você nem estava tão a fim mas fez por troca de likes (você pode não assumir, mas eu sei o que você fez no verão passado).

Esse texto não tem julgamentos, apenas uma impulsão para mostrarmos cada vez mais a coisa mais gostosa dessa vida, que é “viver” do jeitinho que escolhemos e queremos ser, sem nos martirizarmos por isso.

Thiago Kaique Nunes é médico oncologista clínico e professor universitário nas cidades de Salvador e Feira de Santana (BA).

Foto: Roque Holanda

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