SAIU NA ADORO: O que aprendemos com os eventos catastróficos no Sul do Brasil?

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@pompeoscola

 

As chuvas causaram grande destruição no Sul do Brasil faz poucos dias. Pessoas ficaram sem casa, perderam tudo, empresas pararam, ficaram inviabilizadas. Enfim, a lista de efeitos do fenômeno é enorme e, claro, com grandes consequências sociais e econômicas.

Quando algo assim acontece, algo inesperado e improvável em nossa mente, imaginamos que após abaixar as águas, limpar e reconstruir, tudo voltará ao “normal”, que logo os problemas serão esquecidos e a vida seguirá em frente, que tudo já ficou no passado e que tivemos sorte!

Infelizmente isso não é verdade. Sempre que temos que nos relacionar com algo inesperado e significativo, enchentes, um assalto, um acidente aéreo, uma perda financeira, ou seja, qualquer evento que não seria esperado e que ocorre fora do nosso controle, nosso cérebro tenta nos proteger da situação criando uma ruptura com a realidade que na psicologia chamamos de trauma. É como se aquele fato fosse arquivado num lugar diferente em nossas memórias e isolada de conexão com o resto de nossas experiências. Isso é feito para que possamos sobreviver momentaneamente àquela situação, porém, com o passar do tempo, aquela área isolada vai se revestindo de energia emocional reprimida e silenciosamente pode se instalar uma doença psicológica chamada de TEPT – Transtorno do Estresse Pós-Traumático.

Segundo levantamento da UNESCO, atualmente, 6% do PIB mundial se perde por conta do TEPT. Cada pessoa traumatizada pode afetar outras três em média, como explica esse mesmo estudo. No caso de um assalto à uma agência bancária, mesmo sem vítimas fatais, a equipe da agência pode apresentar depois de alguns meses reações de pânico sem explicação, palpitações, depressão, efeito flashback (quando a cena volta repentinamente à nossa mente), ansiedade, sono irregular e desinteresse pela vida ou pela rotina profissional, em casa pode se tornar mais agressiva com a família ou mais isolada. São alguns dos efeitos comuns desse transtorno. A rotina social e profissional é muito afetada.

Qual é a conexão deste contexto com o MATOPIBA?  Sendo uma região nova e em construção socioeconômica, diariamente ocorrem situações disruptivas, inesperadas e significativas, que podem ser gatilhos potenciais ao TEPT.

Embora o formato clínico tradicional da psicologia seja pouco eficiente para tratar este transtorno, existem modelos específicos de tratamento que podem ser aplicados na empresa ou no consultório, e que resultam bem, seja na forma preventiva ou corretiva, em alguns casos. O período de intervenção acaba sendo de poucas sessões, em média de 8 a 12 encontros de 50 minutos são suficientes para completar o tratamento e neutralizar os efeitos potenciais. Parte das sessões podem ocorrer em grupo e outra parte individual.

No Brasil existem poucos psicólogos habilitados neste tema em comparação a países europeus, como Espanha e Itália. Um grupo que vem se destacando no atendimento ao TEPT a nível nacional é a Phoenix, sediada em São Paulo, onde profissionais como a psicóloga Claudia Sodré, que inclusive tem livros escritos sobre o assunto, e com quem tive a felicidade de fazer minha formação e atuação nessa especialidade em 2008, coordena uma equipe verticalizada e experiente, prestando o apoio a empresas e municípios em ocorrências traumáticas das mais diversas situações nestes últimos 20 anos.

Pompeo Scola está em LEM desde 2019. Psicólogo, Administrador e Tecnólogo, atua como conselheiro e como executivo na área de desenvolvimento humano e organizacional, implementando programas de criatividade e inovação para as empresas e dando suporte aos processos de sucessão e aconselhamento empresarial.  

 

Foto: Guilherme Augusto

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