CIRCUITO GASTRÔ: Restaurante Origem

Conheça esse paraíso da gastronomia comandado pelos chefs Fabricio Lemos e Lisiane Arouca 

Texto: Louise Calegari

Dizem que todo cozinheiro sonha um dia em ter seu próprio restaurante e foi exatamente assim com o Fabricio Lemos. O insight veio quando ele ainda trabalhava como lavador de pratos em um restaurante dos Estados Unidos. A certeza o fez apostar na primeira especialização: a renomada escola francesa de gastronomia Le Cordon Bleu. Depois disso, o chef trabalhou nos restaurantes da luxuosa rede de hotéis The Ritz-Carlton, para só então retornar ao Brasil, em 2010.

Em Salvador, Fabrício passou pelo restaurante Mistura, criou o conceito do cardápio do Al Mare, onde propôs um menu mais sutil em sabores e mais sofisticado na apresentação. O resultado lhe rendeu o título de Chef do Ano pela Revista Veja Comer & Beber Salvador em 2014. Depois, ficou quatro anos à frente da cozinha do premiado Amado, de Edinho Engel. Na capital baiana ele conheceu a esposa, a chef-pâtisserière Lisiane Arouca e decidiram juntos concretizar aquele sonho antigo, de ter o próprio negócio. 

Começaram a participar de feiras gastronômicas no intuito de angariar fundos extras para o novo objetivo, como ele mesmo conta: “Lisiane vendia bolo de pote e eu arroz nordestino. Quando batemos o martelo, ela saiu da empresa que trabalhava a 4 Chefs e eu ainda continuei no Amado. O dinheiro que a gente juntou dessas feiras foi o necessário para darmos entrada no nosso sonho.”

Mas, a princípio não foi fácil. A construção durou um ano e meio porque o casal não tinha recursos suficientes: “A gente começou a dar consultoria pra começar a trazer dinheiro pra obra e finalmente conseguimos inaugurar o restaurante Origem, em julho 2016. Aí sim, a nossa história começou a ser escrita”, fala ele. 

E que história, vale ressaltar. Da inauguração para o sucesso a estrada foi mais curta. Em pouco tempo, a casa, que funciona apenas para jantares com reservas, consolidou o nome do chef como referência da nova comida baiana e o alçou ao posto de promessa da gastronomia nacional. 

O propósito do Origem, como sugere o nome do restaurante, é o resgate da identidade, da memória e da cultura baianas por meio do paladar: “A gente queria falar da nossa origem, da origem do produto e da comida afetiva. Queríamos mostrar uma Bahia que a gente mesmo não conhecia, fala Fabricio. 

O cardápio, que funciona com Menu Degustação, possui 11 pratos. Não é surpresa o visitante se deparar com criações inusitadas, que misturam o ápice das técnicas da gastronomia moderna ao tradicional. Foi o Origem que serviu pela primeira vez pratos que foram consagrados pela crítica e pelo público, como o “abarajé”, que mistura os clássicos abará e acarajé e é servido com vatapá. Outras iguarias também fazem parte do cardápio, como a carne de fumeiro de Maragogipe, a farinha de Copioba e o licuri da Caatinga, além do umbu e do siri mole. Para compor os pratos, os chefs saem a procura dos ingredientes direto na fonte: nos locais onde estão os pequenos produtores: “A gente acredita que a comida tem quer ter representatividade e não somente encher a barriga. Apresentamos todo o respeito ao ingrediente e ao produtor que está ali”, diz o chef.

Crédito: Leonardo Freire

Por causa do restaurante, ele e a esposa iniciaram uma caravana em busca desses pontos de produção no estado. Daí surgiu a expedição para cinco biomas baianos. Isso foi fundamental para o processo de valorização dos produtores da região e para a geração de novos negócios: “Para conseguir juntar um quilo de chumbinho, que é o vôngole que trazíamos de Santa Catarina. Nos aproximamos da cooperativa Repescar, que fica em Vera Cruz, para fazer o que chamamos de melhoramento do produto. Isso interfere na entrega final que passa a ter mais qualidade e atende às expectativas dos restaurantes. Nós capacitamos as marisqueiras que passaram então a vender para outros locais.”

O mesmo aconteceu com outros ingredientes, como a manteiga, por exemplo, que era trazida antes de Minas Gerais e passou a ser comprada da Coopag, outra cooperativa baiana. “A nossa região está em crescente desenvolvimento. Podemos observar a Chapada Diamantina brilhando com a produção de queijos sensacionais. Agora, o local começou a produzir de vinhos. O mesmo acontece com os cogumelos, frutas vermelhas e por aí vai. Temos tudo aqui bem pertinho”, revela.

Fabricio Lemos foi premiado como Chef Revelação do Brasil, feito que voltou a conquistar em 2017, quando foi novamente escolhido Chef do Ano pela Revista Veja Comer & Beber Salvador, dessa vez pelo trabalho autoral no Restaurante Origem. A casa também foi a escolhida em três categorias da premiação em 2018: Melhor da Cidade, Melhor Variado/Contemporâneo e Chef do Ano. 

Em janeiro de 2020, Fabrício Lemos inaugurou, novamente ao lado da esposa e sócia Lisiane Arouca, o minibar Gem. Aí vieram mais três prêmios, além do de Restaurante Revelação para o Ori, segunda casa do chef, aberta em 2018. Em 2021, o casal de chefs abriu o Omí, novo restaurante do Fera Palace Hotel, onde agora assinam o conceito gastronômico de todo o setor de Alimentos e Bebidas.

Sobre o fato de conquistar tudo isso ao lado do grande amor da sua vida, o Chef quebra o protocolo ao entregar de bandeja, o que talvez seja a receita mais secreta de todas: “Antes de abrirmos o restaurante fizemos um acordo pra manter o casamento. Ela ficou com a parte da sobremesa e eu com a parte salgada. Aí a gente se complementa, sem interferir no trabalho um do outro.”

Lisiane Arouca é Chef-pâtisserière. Formou-se em Gastronomia pela Estácio Bahia e no curso de Chef de Cozinha do Senac. Trabalhou em restaurantes de Salvador como chef confeiteira, assinando os cardápios de sobremesas, e foi sócia proprietária do 4Chef’s, empresa especializada em confeitaria personalizada, por quatro anos, antes de partir para as conquistas ao lado do marido. Lisiane foi eleita melhor chef-pâtissière do Brasil pelo prêmio Melhores do Ano 2019, da revista especializada Prazeres da Mesa.

@restauranteorigem

  • Compartilhe: