Pandemia x Saúde

Isolamento social faz aumentar consumo abusivo de bebidas alcóolicas e crescer números relacionados à obesidade e ao sedentarismo

Texto: Louise Calegari

Foi só a Pandemia da Covid 19 começar para todo o mundo se trancar em casa com o objetivo de evitar a transmissão do vírus causador da COVID- 19. Em contrapartida, o isolamento social – que era o que tinha que ser feito naquele momento – trouxe consequências para a saúde do Brasileiro, que começou a beber mais, comer mais e treinar de menos.  Foi exatamente isso, o que aconteceu com a jornalista Vânia Silva de 39 anos. No meio do caos causado pelo Coronavírus ela passou a trabalhar no sistema home office. Em casa, a ansiedade aumentou, os lachinhos fora de hora também e o vinho passou a ser semanal. O resultado foi o famoso presente de grego: 8 quilos a mais na balança – peso que hoje, ela luta para se livrar com alimentação regrada e treinos ao ar livre: “Não é uma tarefa fácil, mas estou me esforçando para voltar ao meu corpo de antes”, conta Vânia.

Assim como a jornalista, muitos brasileiros embarcaram nessa onda e fizeram com que os efeitos da pandemia na saúde fossem devastadores. Dados divulgados recentemente pela pesquisa Doenças Crônicas e Seus Fatores de Risco e Proteção: Tendências Recentes no Vigitel, realizada pelo Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS), mostraram que em 2020, houve aumento no consumo abusivo de bebidas alcoólicas e no sedentarismo entre a população brasileira, o que desencadeou a elevação da taxa de pessoas com doenças crônicas, como a obesidade. 

Em 2019, a obesidade atingia 20,3% dos adultos nas capitais do País, mas, em 2020, a doença passou a afetar 21,5% deste grupo, com maior prevalência nos Estados do Sul, Sudeste e Nordeste. Manaus (24,9%), Cuiabá (24,0%) e Rio (23,8%) lideram o ranking de maior incidência da obesidade. Até 2011, nenhuma capital havia ultrapassado 20%. O índice nacional chegou a quase o dobro do que foi registrado 14 anos antes, em 2006, quando só 11,8% da população era portadora desse tipo de comorbidade.

Para o ortopedista, traumatologista e médico do esporte Luis Filipe Daneu Fernandes, parte desse consumo exagerado de comidas e bebidas se deu principalmente por todo o estresse gerado sobre o avanço da pandemia: “As pessoas se deixaram levar pelo estresse da contaminação e do crescimento do número de mortes. Isso fez elevar o nível de ansiedade e de casos de depressão, tendo como uma das consequências a compulsão alimentar e o aumento no consumo de bebidas alcoólicas. Foi como uma válvula de escape.”

Esse comportamento foi determinante para o aumento da incidência de enfermidades crônicas, como a obesidade, por exemplo. Dr Luis Filipe explica que a doença é uma porta de entrada para outros problemas de saúde: “No nosso país a obesidade é considerada uma doença e está relacionada ao Diabetes, à Hipertensão, aos Acidentes Vasculares Cerebrais e à Dor Crônica, porque as células de gordura produzem tecidos inflamatórios, através da Leucina.”

Mas não é só isso: aquele “drink inocente” não fica para atrás. O álcool, segundo o médico, também é prejudicial à saúde: “É enorme a lista de doenças causadas pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Entre as principais, podemos citar Cirrose Hepática, Pancreatite, Impotência Sexual e até perda de massa muscular”, conta ele.

O especialista alerta para a busca da qualidade de vida constante, para garantir bem estar e um envelhecimento saudável. Isso só é possível cuidando do corpo e da mente, fazendo exercícios regularmente e tendo um olhar atento para a alimentação: “O equilíbrio é a chave de tudo, junto com o bom senso. Os pacientes dizem sempre que bebem socialmente. Mas quanto significa esse socialmente? Qual é a dose recomendada? Ou dose ideal? Isso não existe. Não há benefício comprovado do consumo de álcool. Aquela taça de vinho pode fazer bem para alguns, mas não vai ser bom pra todo mundo, depende da idade e do organismo. O melhor é controlar ou evitar.” 

Ele lembra que é sempre tempo de cuidar da saúde: “O importante é começar. É preciso ter hábitos alimentares saudáveis, com menor ingestão de industrializados e maior consumo de frutas, verduras e proteínas e claro, praticar exercícios físicos regularmente”, finaliza.

@drluis.filipedaneu

  • Compartilhe: