Pandemia faz aumentar número de casos de depressão pós-parto

Para evitar o quadro e promover uma maternidade mais leve, psicóloga obstétrica indica acompanhamento em pré-natal psicológico 

Texto Vitórian Tito

Para muitas mulheres, gerar outra vida é um verdadeiro ato de amor, um momento inesquecível e mágico. Mas, para tantas outras, é um pesadelo marcado por sofrimento e dor, que chega até a ser física. Se o ambiente não ajudar, a situação pode piorar ainda mais. Foi exatamente isso, o que aconteceu na Pandemia da COVID- 19. O isolamento social fez inúmeras gestantes adoecerem, por se sentirem muito mais sozinhas.

Uma pesquisa publicada recentemente pelo Journal of Affective Disorders apontou que a pandemia foi um fator fundamental para elevar os índices da doença no Brasil. Das entrevistadas que deram à luz entre junho e dezembro de 2020 na cidade de São Paulo, 38,8% apresentaram sintomas de depressão pós-parto – quase o dobro de estudos em anos anteriores. O número de mulheres com ansiedade foi ainda maior: 40,8% foram diagnosticadas com a condição. Todas as gestantes entrevistadas tinham o hábito de acompanhar desenfreadamente informações sobre pandemia e passavam, em média, 5,6 horas por dia lendo, assistindo ou escutando notícias sobre o assunto. 

A psicóloga obstétrica Thais Riccio, que é especializada em gestação percebeu esse aumento de casos de “pacientes chegando cada vez mais ansiosas e com medo exagerado. Não chegam diagnosticadas com depressão, mas existe um aumento dos sintomas ansiosos que tendem a levar a uma depressão, se o quadro não for tratado no pré-natal.”

A depressão pós-parto coloca a mulher em profunda tristeza, afeta tanto sua saúde física e mental, quanto o desenvolvimento do bebê. O tratamento pode envolver o uso de medicamentos e acompanhamento com médico psiquiatra. Thais conta que antes da Depressão pós parto, vem o baby blues, que atinge mais 80% das gestantes ainda no puerpério: “o baby blues é consequência da queda hormonal e o pico é no quinto dia após o parto, quando há muito choro, estado deprimido e tristeza. A tendência é a diminuição desse quadro com o passar dos dias. Se isso não acontecer é preciso acender o alerta.”

Como muitas mães se viram praticamente sem ajuda no pós-parto, isso foi um agravante. Segundo a psicóloga, “a pandemia fez a rede de apoio se reduzir a poucas pessoas ou nenhuma, condicionando a mulher a cuidar do bebê sem suporte durante os primeiros meses de adaptação, gerando o medo de não dar conta de tudo sozinha.”

O apoio é fundamental desde o princípio de tudo, quando a mulher descobre a gestação e tem que partir da família e também de um profissional especializado, no chamado pré-natal psicológico. Esse cuidado vai além daquele monte de consultas obstétricas e exames e envolve ainda a participação do pai, como protagonista ao lado da mulher: “a terapia é focada nas questões da gestante, aproxima o pai dos assuntos e promove diálogos para que a maternidade seja encarada de maneira mais leve”, diz Thais, que acrescenta ainda, que “o acompanhamento é uma preparação para essa mudança na vida do casal, quando são trabalhados o medo, as dúvidas, a função paterna, a amamentação, o encontro com os avós e a rede de apoio.” 

@thais_riccio

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