Médica pneumologista explica malefícios do uso contínuo de cigarros eletrônicos

Texto: Vitórian Tito 

Que o cigarro comum traz sérios prejuízos à saúde, todo mundo já sabe. Afinal, o tabagismo é a principal causa de câncer de pulmão no mundo – resultado da exposição às substâncias tóxicas misturadas ao tabaco. O que ninguém sabia até agora é que um pequeno e curioso aparelho, conhecido como cigarro eletrônico também é nocivo ao organismo. O dispositivo de fumaça foi inventado na década de 1960, nos Estados Unidos, mas não chegaram a ser comercializados porque faltou tecnologia para completar a ideia. Quarenta anos depois, o a invenção foi resgatada, atualizada e virou moda entre jovens de 13 a 35 anos.

Os cigarros eletrônicos possuem uma resistência que aquece um compartimento onde é inserido um líquido – uma espécie de essência à base de nicotina. A novidade é que esse líquido, que tem a função de dar sabor e aromatizar a fumaça, possui toxinas cancerígenas) Recarregável, o equipamento que também é conhecido com vaper, não precisa de fogo para criar combustão. Assim que esquenta, o usuário só precisa sugar o líquido já transformado em vapor.  

Crédito: Arquivo Pessoal

O Cigarro eletrônico custa caro e ainda tem a venda proibida pela Anvisa, já que o Brasil é o segundo país do mundo a adotar todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de combate ao tabagismo.  Mesmo assim, muita gente comprou a ideia achando que não traria tanto impacto negativo à saúde e começou a usar o dispositivo como alternativa para fumantes que desejam parar ou diminuir com o vício. E o pior: novos usuários, que nunca tinham fumado um cigarro de verdade na vida, aderiram à onda por achar o mesmo. Um levantamento da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PenSE) apontou que, em 2019, 16,8% dos escolares de 13 a 17 anos já haviam experimentado vapers, sendo que a porcentagem chegou a 22,7% nas pessoas com idades entre 16 e 17 anos.

Para a médica pneumologista Maristela Sestelo é preciso ficar alerta: “É importante ressaltar, cerca de 27% das partículas do vapor e 35% das partículas de fumaça dos e-cigarros alcançam estruturas profundas do pulmão e caem na circulação sistêmica, da mesma forma como acontece com o cigarro por combustão. “ De acordo com a médica, que é especialista em tabagismo, isso fica muito claro ao comparar a quantidade de toxinas no vapor do cigarro eletrônico com o regular: “São praticamente as mesmas substâncias, como Formaldeído, Acetaldeído, Acroleína, Tolueno, Cádmio,Cníquel, Enxofre, Chumbo, Cobre. Este último, irrita as vias aéreas e pode levar à dor torácica, enquanto o chumbo é cancerígeno e causa danos ao sistema nervoso central e aos rins”, explica ela.

Se a análise for a longo prazo, a situação piora ainda mais, como explica a especialista: “ No uso prolongado, os cigarros eletrônicos causam processos inflamatórios capazes de aumentar o risco de doenças cardiovasculares e respiratórias que podem levam à morte, como infarto, acidente vascular encefálico, enfisema pulmonar, diminuição das funções do órgão e o próprio câncer de pulmão. Não dá para dizer que o cigarro eletrônico é isento de danos, porque isso é uma mentira da indústria para que o indivíduo se sinta confortável e sem culpa ao usar”, explica. 

Além das complicações que podem levar à óbito, o dispositivo ainda é um grande fator de risco à doenças como covid-19, herpes labial, tuberculose e mononucleose, todas transmitidas pelo contato com a saliva – que acontece com muita frequência entre os usuários, que têm o comportamento de compartilhar o cigarro eletrônico entre si.

MUDANÇA DE HÁBITOS

Para Maristela Sestelo, não adianta apenas dizer que os e-cigarros são menos prejudiciais sem comprovação: o argumento não é válido. “Existem pouquíssimas publicações e os estudos feitos até agora são de baixa qualidade. As bases científicas foram feitas com metodologias ruins, então não dá para dizer que o cigarro eletrônico é efetivo para ajudar o indivíduo a deixar de fumar”, explica. 

Quem deseja deixar de vez com o cigarro – seja ele qual for – deve buscar tratamento apropriado: “Existem grupos de tabagismo que fazem o tratamento comportamental com o propósito de identificar os gatilhos e ajudar o indivíduo a parar de fumar. Já em termos medicamentosos, o mesmo medicamento que usamos para o cigarro convencional é usado para os dispositivos eletrônicos”, finaliza a médica. 

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