O OURO DO CERRADO: Cacau cultivado em áreas não tradicionais da Bahia se destaca no mercado brasileiro  

 

Texto: Vitórian Tito

O Brasil é o sétimo produtor de cacau do mundo. Entre os estados brasileiros, a Bahia ultrapassou o Pará, que liderava o plantio do fruto, se consolidando como o maior produtor do país ao bater um recorde histórico para a região e entregar, em 2021, 140.928 toneladas da amêndoa, de acordo com dados da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). O aumento de 39,72% em relação ao ano anterior, colocou a Bahia como responsável por 71,30% do cacau recebido pelas indústrias produtoras no ano.

Mas, nos últimos anos, um tipo de cacau específico ganhou destaque no mercado brasileiro: o cacau do cerrado, que é cultivado a pleno sol em áreas consideradas não tradicionais do Oeste baiano. A iniciativa de plantar cacau em um ambiente ensolarado, bem distante daquele que normalmente é associado ao plantio do fruto, partiu do Grupo Schmidt, que atua desde 1979 como especialista na produção de fibras, grãos e frutas. Há quatro anos, a empresa estava em processo de implantação da bananicultura na região e procurava uma alternativa para complementar a fruticultura. Foi então que surgiu a oportunidade de investir em tecnologia para implantar, pela primeira vez, a cacauicultura em áreas extensivas do semiárido brasileiro.

Moisés Schmidt é Vice-Presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA) e Diretor da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB – Oeste/BA). Além disso, ele é um dos fundadores do Grupo e presidente da BioBrasil, a empresa de produção de mudas de cacau com alta tecnologia surgiu da parceria entre a Schmidt Agrícola, Tamafe Tecnologia e TRF Consultoria Agrícola e resultou na implementação do projeto em Riachão das Neves – BA. Ele explica que os bons resultados da produção de cacau no cerrado baiano só foi possível por causa do preparo específico do solo, dos conhecimentos dos profissionais envolvidos e do investimento em pesquisa e tecnologia para se adaptar às características da região: “A gente costuma falar que aqui no Brasil a cacauicultura não era tratada como fruticultura, e sim quase como um extrativismo. O que nós estamos fazendo é a adaptação do fruto em áreas não tradicionais para vencer novas barreiras”, conta.

A partir dos estudos da BioBrasil, Moisés conta que foi possível desenvolver mudas de cacau adaptadas ao sol desde o plantio, o que desmistifica que o fruto só se desenvolve em ambientes sombreados. “Com isso, nós conseguimos precocidade na planta e conseguimos produzir cacau a partir de um ano e meio, e isso é recorde em questão de produção de cacau. Outro ponto positivo é a alta produtividade que conseguimos através da inovação tecnológica: algumas colheitas já ultrapassaram 200 arrobas”, explica ele.

Mesmo com pouco tempo de implantação, Moisés Schmidt acredita que a colheita vai bater outra meta em 2022 e ultrapassar os 350 arrobas: “Isso é tudo devido aos preparos do solo, ao conhecimento de cerrado que nós temos, ao clima que nos favorece aqui na região e ao emprego de alta tecnologia e assistência técnica, além de que as terras do Oeste da Bahia também proporcionam lavouras extensivas com grandes áreas a serem cultivadas”.

Longe de ser um trabalho rudimentar, manual e sem muito organização nas lavouras de cacau, Moisés conta que a BioBrasil está levando o plantio do fruto a um patamar mais mecanizado e tecnológico para elevar a produtividade, reduzir custos e melhorar a qualidade do produto final. “A qualidade do fruto é o que nos diferencia. Além disso, já garantimos uma produtividade dez vezes maior do que aquelas em áreas tradicionais à nível Brasil, e isso é um número muito significante que tem trazido novos olhares e novos investidores para essa cultura que promete ser muito rentável”, ressalta o produtor. Isso impulsiona ainda mais a expansão da cultura irrigada do cacau que já oferece mudas bem formadas e horizontes positivos, a partir do interesse de entidades financeiras em incentivar o crescimento da cacauicultura em áreas não tradicionais com créditos pré-aprovados para o produtor rural.

Entre uma lista de bons resultados da primeira biofábrica voltada ao cacau no cerrado baiano, a BioBrasil já ganhou um dos principais: a aprovação para comercializar mudas de cacau certificadas em todo o Oeste do estado a partir do certificado de Registro de Comerciante de Vegetais e seus Produtos, Subprodutos, Resíduos e Insumos Agrícolas: “ Nós temos o cacau do cerrado hoje como um excelente produto, o que nos deixa confiantes sobre o futuro. Aqui na região, o nosso produto é diferenciado cujo chocolate apresenta um gosto peculiar que recebe muitos elogios”, orgulha-se Moisés.

Para o futuro, Moisés conta que os desafios e expectativas estão em intensificar cada vez mais a mecanização, para gerar ainda mais empregos com mão de obra qualificada e em achar variedades cada vez melhores e mais adaptadas ao estilo de cultivo proporcionado pela região para aumentar, novamente, os índices de produtividade e suprir o déficit de 70 mil toneladas de cacau apresentado pelo mercado brasileiro. Atingindo essas metas, o próximo passo da BioBrasil será pensar na exportação e entrada no comércio internacional. E com tantos resultados positivos, ninguém duvida disso.

 

 

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